Ministério da Saúde dos EUA quer popularizar dispositivos vestíveis, mas especialistas alertam para custo e privacidade – O secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., definiu como meta ampliar o uso de dispositivos vestíveis em todo o país no prazo de quatro anos.
A proposta foi exposta durante audiência da Subcomissão de Saúde do Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Deputados, quando o representante do governo descreveu a estratégia como parte do programa “Make America Healthy Again”, cujo foco é incentivar hábitos que reduzam doenças crônicas e custos hospitalares.
Segundo Kennedy, os equipamentos de monitoramento de parâmetros fisiológicos ajudam a modificar comportamentos de forma contínua.
Ele citou especialmente os sensores de glicose intersticial, capazes de medir variações de açúcar no sangue em tempo real.
Em seu relato, conhecidos que passaram a usar o recurso conseguiram, em poucos meses, perder peso e até reverter diagnósticos de diabetes tipo 2.
Para o secretário, a adoção em massa desses dispositivos poderia impactar indicadores de saúde pública, diminuindo despesas do sistema e aumentando a produtividade.
Ministério da Saúde dos EUA
Os vestíveis — termo que engloba pulseiras fitness, relógios inteligentes e patches adesivos — executam funções cada vez mais diversificadas.
Entre as mais disseminadas estão contagem de passos, aferição de frequência cardíaca, estimativa de qualidade do sono e identificação de episódios de apneia noturna.
Modelos recentes incorporam sensores de oximetria, termômetros de pele e eletrocardiograma (ECG) portátil.
Essa evolução tecnológica, de acordo com o secretário, justifica o esforço governamental para levar a solução a todos os norte-americanos.
Médicos também veem vantagens clínicas nos dados contínuos gerados pelos aparelhos. O cardiologista Ian Smith, que acompanha pacientes que utilizam eletrodos embutidos em smartwatches, afirmou perante legisladores que arritmias assintomáticas podem ser detectadas em monitoramento de 24 horas.
Quando o dispositivo identifica ritmo irregular, o alerta chega ao usuário, que procura ajuda antes que ocorram complicações como infarto ou acidente vascular cerebral.
Para a comunidade médica, essa capacidade de identificar problemas precocemente constitui um recurso valioso no manejo de doenças cardiovasculares, responsáveis por parte significativa das mortes no país.
Empresa e Tecnologia
Paralelamente ao uso em adultos, empresas de tecnologia lançam produtos voltados a públicos específicos.
Há pulseiras destinadas a reduzir o risco de síndrome da morte súbita infantil, colares que vibram para corrigir postura e adesivos que analisam hormônios do estresse em profissionais submetidos a altas cargas de trabalho.
A expansão de nichos demonstra um mercado em franca ascensão, impulsionado por componentes eletrônicos miniaturizados e por algoritmos de aprendizagem de máquina responsáveis por interpretar sinais biológicos.
Apesar do entusiasmo, a disseminação ampla de vestíveis levanta questionamentos sobre privacidade.
Mark Goddard, vice-presidente de serviços clínicos da InfoBionic.Ai, esclareceu aos deputados que muitos usuários desconhecem quem tem acesso às suas informações. Em tese, dados de atividade física, batimentos cardíacos ou glicemia constituem histórico médico e, portanto, deveriam receber proteção similar à prontuária eletrônica.
Entretanto, nem todas as empresas seguem padrões rígidos de criptografia, e termos de uso permitem compartilhar registros com terceiros, inclusive seguradoras.
A possibilidade de venda de dados sensíveis preocupa porque pode influenciar valores cobrados em planos de saúde.
Se uma seguradora receber informações que indiquem alto risco de doença, poderia aplicar reajustes ou restrições de cobertura.
Goddard defende transparência total sobre fluxo de dados, políticas de retenção e critérios de anonimização.
Para ele, só com regras claras o consumidor poderá avaliar vantagens e eventuais riscos antes de aderir.
Acessibilidade Financeira
Outro ponto em discussão é a acessibilidade financeira. Kennedy reconheceu na audiência que um sensor de glicose custa, em média, 80 dólares por mês — valor que pode inviabilizar o uso contínuo para famílias de baixa renda.
O Departamento de Saúde estuda mecanismos que permitam reembolso parcial ou integral, seja por meio de programas públicos, seja por incentivos fiscais à indústria.
Segundo o secretário, reduzir a despesa inicial deve acelerar a adoção e gerar economia ao sistema no longo prazo, pois pacientes controlados demandam menos consultas, medicamentos e internações.
Estudos independentes reforçam a tese de que vestíveis influenciam positivamente indicadores de saúde.
Pesquisas de centros acadêmicos norte-americanos apontam redução média de 7% em peso corporal entre usuários regulares de pulseiras fitness e queda de até 12 mmHg em pressão arterial entre hipertensos que recebem alertas de inatividade.
Ainda assim, especialistas lembram que tecnologia, por si só, não substitui acompanhamento profissional; os dispositivos funcionam como complemento, fornecendo dados que orientam intervenções médicas personalizadas.
Para que a meta de universalizar o uso se concretize, analistas sugerem ações combinadas: educação da população sobre benefícios e limitações, políticas de proteção de dados, subsídios direcionados a grupos vulneráveis e padronização de certificações de segurança.
Na visão de Goddard, a regulamentação deve equilibrar inovação e salvaguarda do cidadão, garantindo que a evolução do mercado não comprometa direitos individuais.
Parlamentares de partidos demonstram interesse!
No Congresso, parlamentares de ambos os partidos demonstraram interesse em elaborar proposta legislativa que estabeleça diretrizes para coleta, armazenamento e compartilhamento de informações geradas por vestíveis.
Debates incluem a possibilidade de exigir consentimento explícito, criar selos de boas práticas e aplicar sanções a companhias que utilizem registros de maneira inadequada.
A expectativa é que o texto avance em paralelo às iniciativas do Poder Executivo, definindo um marco regulatório capaz de acompanhar a rápida expansão do setor.
Enquanto isso, fabricantes continuam a investir em pesquisas para ampliar precisão dos sensores e prolongar autonomia de baterias.
Alguns projetos em fase piloto já integram monitoramento de pressão intracraniana, análise de marcadores de fadiga em atletas e detecção precoce de infecções respiratórias.
A tendência indica que, nos próximos anos, os vestíveis passarão de auxiliares de estilo de vida a elementos centrais de gestão de saúde populacional, conectados a prontuários digitais e plataformas de telemedicina.
A iniciativa do Departamento de Saúde, portanto, se insere em um contexto de transformação digital que promete alterar a relação entre pacientes, profissionais e sistemas de seguridade.
Se desafios de privacidade e custo forem superados, o objetivo de equipar cada cidadão com um dispositivo vestível poderá representar salto significativo na prevenção de doenças, reduzindo pressão sobre hospitais e ampliando expectativa de vida.
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