Druzos israelenses atravessam fronteira para reagir a massacre na Síria; Israel envia ajuda e tenta conter tensão

MAJDAL SHAMS, Golan – Centenas de cidadãos druzos de Israel cruzaram a fronteira com a Síria na última semana, após o assassinato de mais de 2.000 pessoas da mesma comunidade em As-Sweida. O episódio, classificado por sobreviventes como um dos maiores atos de violência sectária desde 2023, desencadeou uma resposta militar e humanitária de Israel, além de críticas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Violência em As-Sweida e número de vítimas

De acordo com relatos colhidos em As-Sweida, milícias islamistas, respaldadas por forças ligadas ao regime sírio, invadiram bairros druzos e avançaram sobre hospitais. Famílias inteiras foram mortas nas residências e profissionais de saúde, pacientes e acompanhantes foram executados dentro das unidades médicas. Entre as vítimas está o pastor Khaled Mzher, da Igreja Evangélica Bom Pastor, morto com 19 familiares. Testemunhas estimam que cerca de 100 médicos, enfermeiros e pacientes estejam entre os mortos.

A ofensiva resultou em mais de 2.000 mortos, número que redesenhou o cenário humanitário na província. Organizações locais descrevem uma situação de escassez de insumos médicos, deslocamento interno e insegurança contínua, mesmo após um cessar-fogo informal.

Resposta imediata de Israel

Do lado israelense da fronteira, o governo mobilizou aeronaves para entregar equipamentos, medicamentos e suprimentos ao principal hospital de As-Sweida. A operação, articulada com interlocutores da comunidade drusa síria, incluiu a remoção de feridos graves para tratamento em território israelense. Paralelamente, a Força Aérea de Israel realizou ataques direcionados a alvos militares sírios nas proximidades de Damasco e de Sweida. O objetivo declarado foi sinalizar que novos ataques contra civis não seriam tolerados.

Autoridades de defesa afirmam que as ações aéreas miraram estruturas associadas ao Exército sírio e depósitos de logística usados pelas milícias que cometeram o massacre. O governo de Damasco não divulgou balanço de baixas, mas condenou a incursão israelense, acusando Tel Aviv de violar sua soberania.

Travessia de druzos israelenses

Embora a ajuda humanitária tenha chegado, parte da população drusa em Israel considerou as medidas insuficientes. Em Majdal Shams, vila localizada a poucos metros da cerca que separa o Golã controlado por Israel do território sírio, mais de mil residentes atravessaram a fronteira sem autorização. Alguns seguiram a pé por rotas rurais; outros utilizaram veículos em pontos onde o alambrado havia sido danificado em confrontos anteriores.

Testemunhas relatam que o principal objetivo era prestar socorro direto e, quando possível, integrar-se à defesa dos parentes do outro lado. Muitos afirmam que, diante da ausência de forças internacionais no local, não poderiam permanecer inativos enquanto familiares eram atacados.

O Exército israelense reforçou rapidamente o dispositivo na linha de separação, bloqueando novas tentativas de entrada e conduzindo parte dos que haviam cruzado de volta ao lado israelense. Ainda assim, autoridades reconhecem que grupos menores conseguiram permanecer na Síria e se juntaram às forças locais de autodefesa druzas.

Lembrança de ataque anterior e clima de tensão

A ferida aberta na comunidade de Majdal Shams não é recente. Em julho de 2024, um foguete disparado pelo Hezbollah atingiu um campo de futebol durante uma partida juvenil, causando a morte de 12 adolescentes. Com uma população de aproximadamente 12 mil habitantes, praticamente todos os moradores conheciam ao menos uma das vítimas. Esse episódio permanece vivo na memória coletiva e reforçou a percepção de vulnerabilidade.

Agora, do outro lado da barreira de segurança, relatos de novas mortes de crianças druzas intensificam a pressão sobre o governo israelense. Moradores afirmam que, se não houver intervenção internacional ou expansão do auxílio militar, novas tentativas de travessia podem ocorrer.

Críticas e posicionamento da ONU

A atuação israelense provocou reação imediata na sede das Nações Unidas. O porta-voz Stéphane Dujarric afirmou que o secretário-geral está preocupado com “violações da integridade territorial síria” e pediu a Israel que se abstenha de mais ataques. Para o governo israelense, entretanto, a ação foi medida preventiva diante de ameaças contra civis que compartilham laços históricos com o país.

Analistas consultados por veículos internacionais observam que Israel estabeleceu uma linha vermelha tácita: ataques direcionados a minorias aliadas, como os druzos, podem gerar respostas militares limitadas, principalmente quando ocorrem perto da fronteira do Golã. Essa postura, avaliam, busca dissuadir milícias ligadas ao Irã e ao regime sírio de avançar sobre áreas consideradas sensíveis para Israel.

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Imagem: www1.cbn.com

Aliança histórica entre judeus e druzos

A relação entre a população judaica israelense e a minoria drusa remonta à fundação do Estado de Israel. Os druzos do país cumprem serviço militar obrigatório, ocupam cargos de destaque nas Forças de Defesa de Israel e participam da vida política nacional. Essa parceria militar e cívica é frequentemente descrita por porta-vozes das duas comunidades como um “pacto de sangue”.

Fontes militares israelenses ressaltam que proteger civis druzos na Síria também atende a interesses de segurança mais amplos. Segundo essas avaliações, milícias que atacam a minoria poderiam, em curto prazo, voltar-se contra alvos israelenses ou ocidentais.

Cessar-fogo frágil

Em As-Sweida, um acordo informal mediado por líderes locais reduziu temporariamente os confrontos. Mesmo assim, unidades ligadas ao Estado Islâmico e a facções pró-regime mantêm presença nos arredores da cidade. Moradores relatam que homens armados circulam à noite, intimidam famílias deslocadas e controlam o acesso a suprimentos.

Equipes médicas alertam para a falta de antibióticos, analgésicos e material cirúrgico. O hospital que recebeu parte da ajuda israelense opera com capacidade reduzida, e a energia elétrica é fornecida de forma intermitente. Organizações humanitárias consideram a situação instável e temem que novos combates inviabilizem o atendimento à população ferida.

Possível escalada regional

A mobilização dos druzos israelenses e a retaliação imediata de Israel reforçam o risco de expansão do conflito. Qualquer novo deslocamento de civis pelo Golan pode colocar militares israelenses em confronto direto com forças sírias regulares, cenário que aumentaria a tensão entre Tel Aviv e Damasco. Paralelamente, a presença de grupos alinhados ao Irã, como o Hezbollah, mantém o norte de Israel em estado de alerta elevado.

Especialistas em segurança afirmam que, embora o governo israelense busque evitar envolvimento prolongado na guerra síria, considera indispensável impedir massacres em comunidades aliadas próximas à sua fronteira. Os próximos passos dependerão da capacidade de líderes locais em Sweida de manter o cessar-fogo e da decisão do regime sírio de controlar ou não as milícias responsáveis pelos ataques.

Sentimento nas comunidades druzas

Entre os druzos de Israel, o clima é de indignação e solidariedade. Famílias mantêm comunicação diária com parentes na Síria, trocando informações sobre deslocamentos internos e necessidades urgentes. Voluntários organizam coleta de alimentos, roupas e medicamentos em localidades como Daliyat al-Carmel e Isfiya, na Galileia, com envio indireto via organizações não governamentais.

Representantes comunitários solicitam que o governo israelense pressione fóruns internacionais por uma proteção mais ampla aos druzos sírios. Paralelamente, exigem que a ONU investigue a participação de forças oficiais do regime no massacre e garanta corredores humanitários para civis em áreas sitiadas.

Próximos desenvolvimentos

Nas próximas semanas, o foco estará na manutenção do frágil cessar-fogo em Sweida, na continuidade do fluxo de ajuda e na eventual retirada dos druzos israelenses que ainda permanecem em território sírio. Observadores militares monitoram a movimentação de milícias islamistas na região, enquanto diplomatas buscam alinhamento entre Israel, ONU e, de forma indireta, o governo sírio, para evitar nova escalada.

Apesar da pressão internacional, autoridades israelenses reiteram que ações futuras dependerão do nível de ameaça contra civis druzos, estabelecendo uma equação em que a segurança da comunidade além-fronteira influencia diretamente as decisões estratégicas no lado israelense do Golã.

Debora Calegari

Sou responsável pelos conteúdos do blog Jesus e a Bíblia e escrevo cada linha com entusiasmo, acima de tudo com amor ao meu trabalho.
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