Um pastor que mantinha dois empregos em Baton Rouge, capital da Louisiana, afirma ter sido dispensado da função de técnico em uma biblioteca pública por se recusar a empregar os pronomes preferenciais de um colega de trabalho transgênero. O caso envolve o pastor Luke Ash, responsável pela Stevendale Baptist Church, que atuava simultaneamente como funcionário da East Baton Rouge Parish Library para complementar a renda familiar.
A situação começou a se desenrolar em 7 de julho de 2025, quando Ash conversava com outra funcionária sobre o treinamento de um novo integrante da equipe. Ao mencionar a pessoa em questão, o pastor utilizou o pronome feminino. A colega o informou de que o funcionário treinando se identificava no gênero masculino e solicitou o uso do pronome correspondente. Segundo o relato de Ash, ele recusou a solicitação alegando motivos de convicção religiosa.
No dia seguinte, terça-feira, 8 de julho, o supervisor direto de Ash e o chefe do setor de referência chamaram-no para uma conversa formal. Na ocasião, apresentaram a política interna de inclusão da biblioteca, que orienta os colaboradores a empregar os nomes e pronomes escolhidos por cada servidor ou usuário. Ainda de acordo com o pastor, os superiores o advertiram de que o descumprimento da diretriz poderia resultar em medidas disciplinares.
A discussão não levou a um consenso. Na quinta-feira, 10 de julho, o pastor recebeu comunicado de demissão. O documento, segundo ele, citava especificamente a recusa no uso dos pronomes preferenciais como violação das normas da instituição. A decisão encerrou um vínculo de aproximadamente quatro meses; Ash havia sido contratado como técnico de empréstimo interdepartamental no início de março.
O pastor, de 38 anos, mudou-se de Indiana para a Louisiana cerca de seis meses antes do episódio. Pai de quatro filhos, ele procurou a vaga na biblioteca após trabalhar por anos como motorista de caminhão. A jornada em horário administrativo, explicou, permitia dedicar noites e fins de semana tanto à família quanto aos compromissos da igreja que lidera.
Para Ash, a oportunidade também representava uma extensão de seu ministério. Na visão dele, o trabalho em um ambiente de livros e informação encaixava-se na missão pastoral de orientar e apoiar pessoas. Contudo, a convivência no local teria revelado um clima que descreve como pouco acolhedor a cristãos ou conservadores. Ele afirma ter presenciado comentários depreciativos de colegas sobre títulos relacionados ao ex-presidente Donald Trump e ao ex-secretário de Defesa Pete Hegseth, entre outros.
Os gestores da biblioteca basearam-se no regulamento que protege a identidade de gênero e a orientação sexual de servidores e usuários. A política, em vigor há vários anos, orienta a equipe a tratar todos pelo nome e pelos pronomes declarados, visando assegurar um ambiente de trabalho inclusivo. O descumprimento pode levar a advertência, suspensão ou demissão, dependendo da gravidade e da frequência da infração.
Ao justificar sua postura, Ash argumenta que não poderia “mentir” sobre o sexo biológico de um colega. Ele afirma priorizar convicções religiosas quando estas entram em choque com normas institucionais. Para o pastor, reconhecer o colega como homem violaria sua compreensão teológica sobre gênero.
Entidades de defesa dos direitos LGBTQIA+ manifestaram apoio à condução da biblioteca. Logan Wolf, membro do conselho da organização Forum for Equality, declarou que o estabelecimento apenas aplicou o próprio regulamento. Segundo ele, abandonar a política significaria permitir um ambiente inseguro ou discriminatório para funcionários transgênero.
No contexto jurídico dos Estados Unidos, políticas internas que exigem o respeito à identidade de gênero costumam basear-se em interpretações do Título VII da Lei dos Direitos Civis de 1964, que proíbe discriminação no emprego por motivos de sexo. Desde 2020, após decisão da Suprema Corte no caso Bostock v. Clayton County, discriminação contra pessoas trans passou a ser considerada violação dessa legislação. Organizações patronais têm, portanto, respaldo para exigir que colaboradores utilizem pronomes de acordo com a identidade de gênero dos colegas, sob risco de sanções disciplinares.
Especialistas observam, entretanto, que a questão entra em rota de colisão com alegações de liberdade religiosa asseguradas pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Trabalhadores que evocam convicções religiosas para não utilizar pronomes preferenciais têm recorrido aos tribunais, produzindo decisões divergentes em instâncias inferiores. A definição de limites entre direitos individuais e políticas antidiscriminatórias permanece tema em disputa no Judiciário federal.

Imagem: www1.cbn.com
Até o momento, não há registro de ação judicial protocolada por Ash contra a biblioteca. Em entrevistas, o pastor declarou não ter definido se buscará reparação legal. Ele indicou, porém, que pretende relatar o caso a organizações que ajudam trabalhadores a litigar em defesa da liberdade religiosa.
O East Baton Rouge Parish Library System emprega cerca de 600 pessoas distribuídas por 14 unidades. De acordo com dados disponibilizados em relatórios anuais, o sistema movimenta aproximadamente 3,1 milhões de itens por ano, entre empréstimos físicos e digitais. O setor em que Ash atuava é responsável por trocar materiais entre sucursais e atender solicitações de outras bibliotecas em todo o estado.
No curto período em que esteve na equipe, o pastor relata ter recebido avaliação positiva de desempenho, sem reclamações formais de usuários. O incidente envolvendo pronomes foi o primeiro registro disciplinar em seu arquivo funcional. A demissão encerrou o vínculo sem pagamento de indenização adicional além do saldo de horas trabalhadas, conforme afirmado pelo ex-funcionário.
O caso repercutiu em programas de rádio e televisão voltados ao público evangélico. Líderes religiosos favoráveis a Ash argumentam que políticas de inclusão estariam criando um “teste ideológico” para o emprego, forçando colaboradores a expressar conceitos em desacordo com crenças pessoais. Grupos progressistas, por sua vez, sustentam que a recusa em usar pronomes preferenciais configura assédio ou discriminação, justificando medidas disciplinares.
Analistas trabalhistas ressaltam que empregadores, especialmente órgãos públicos, enfrentam o desafio de equilibrar liberdade de expressão e direito à não discriminação. Enquanto tribunais superiores não definirem parâmetros mais claros, os conflitos tendem a continuar, abrindo espaço para processos judiciais que variam de acordo com a jurisdição e as circunstâncias específicas.
Para a família Ash, a demissão significa reavaliar as finanças. O pastor contou que pretende retomar trabalhos de entrega ou buscar outra função em horário compatível com as obrigações ministeriais. Ele não descarta, porém, a possibilidade de se mudar novamente caso surja oportunidade em local que julgue mais alinhado aos seus valores.
Representantes da biblioteca não comentaram detalhes sobre o desligamento, citando políticas de confidencialidade referentes a recursos humanos. Por meio de nota, limitaram-se a reforçar o compromisso com um ambiente de trabalho “aberto, respeitoso e seguro para funcionários e usuários de todas as identidades”.
O episódio se soma a uma série de disputas semelhantes registradas nos Estados Unidos nos últimos anos, envolvendo professores, enfermeiros e funcionários de empresas privadas. À medida que escolas, repartições e corporações adotam diretrizes inclusivas, trabalhadores que invocam crenças religiosas contrárias à identidade de gênero enfrentam advertências e, em alguns casos, demissão. Do outro lado, pessoas trans e entidades de direitos civis afirmam que o reconhecimento de pronomes é requisito básico de dignidade no ambiente de trabalho.
Enquanto o debate jurídico e cultural prossegue, histórias como a de Luke Ash evidenciam os impactos concretos dessas tensões na rotina profissional e familiar. A questão dos pronomes permanece, assim, no centro de disputas sobre liberdade de expressão, proteção à diversidade e limites da atuação patronal nos Estados Unidos.

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