O padre católico Daniel Alphonsus Afina, de 41 anos, foi libertado em 21 de julho após passar 51 dias em poder do grupo terrorista Boko Haram, no nordeste da Nigéria.
O religioso, raptado em 1º de junho enquanto viajava de Mubi a Maiduguri, retornou ao seu bispado para repouso e cuidados médicos.
A libertação incluiu ainda dez mulheres que eram mantidas reféns pela facção islâmica.
Afina foi capturado quando cumpria missão humanitária de apoio a cristãos deslocados pela violência na região.
Segundo Joel Veldkamp, diretor de comunicações internacionais da organização Christian Solidarity International (CSI), o sacerdote atuava em parceria com a entidade, que auxilia vítimas de perseguição religiosa.
Durante o período de cativeiro, líderes religiosos e ativistas promoveram correntes de oração e campanhas por sua libertação.
Padre sequestrado pelo Boko Haram é libertado após 51 dias
51 dias de cativeiro e entrega às autoridades
Informações divulgadas pela CSI indicam que a entrega do padre às forças de segurança nigerianas ocorreu sem confrontos armados.
A operação de resgate, cujos detalhes permanecem sob sigilo por razões de segurança, resultou no transporte imediato do religioso para Maiduguri, capital do estado de Borno, onde ele se recupera sob supervisão médica. Familiares pediram privacidade durante o processo de restabelecimento.
Missão pastoral em meio à crise humanitária
Antes de voltar à Nigéria, Afina passou sete anos no Alasca, nos Estados Unidos, onde realizou cursos de aconselhamento psicológico e terapia.
Ele retornou ao país natal em 2024 motivado pelo desejo de auxiliar pessoas traumatizadas pelos ataques de grupos extremistas. A escolha o colocou na rota de uma das organizações terroristas mais ativas da África Ocidental.
Atuação conjunta com a Christian Solidarity International
A CSI mantém projetos de distribuição de mantimentos, abrigo temporário e apoio psicológico a comunidades cristãs expulsas de suas aldeias.
Veldkamp destaca que a visibilidade de Afina nessas missões pode ter contribuído para o seu sequestro, pois o Boko Haram busca “estabelecer um Estado islâmico na Nigéria e expulsar todos os cristãos”.
Panorama da violência contra cristãos na Nigéria
Com mais de 200 milhões de habitantes, a Nigéria possui proporções quase iguais de cristãos e muçulmanos. Entretanto, a distribuição étnica e religiosa varia de forma significativa entre as regiões.
O norte, majoritariamente muçulmano, concentra as ações do Boko Haram e da facção Estado Islâmico Província da África Ocidental. Veldkamp ressalta que milhares de cristãos já foram mortos e inúmeros vilarejos foram esvaziados pelos ataques.
Duas zonas de conflito principais
- Nordeste (Boko Haram): epicentro de atentados a igrejas, raptos em massa e explosões de grande escala, especialmente em Borno e estados vizinhos.
- Cinturão Médio (Middle Belt): região etnicamente diversa onde milícias formadas por membros do grupo Fulani atacam aldeias cristãs semanalmente, segundo a CSI.
Apelos internacionais e estatísticas de perseguição
A gravidade da situação levou entidades como a Global Christian Relief (GCR) a contabilizar quase 10 mil mortes de cristãos em um único ano, principalmente no norte e na faixa central do país. Para Veldkamp, a Nigéria é “o lugar mais letal do mundo para ser cristão”.
Relatórios da Open Doors World Watch List 2025 posicionam o país como o sétimo pior em perseguição religiosa.
Diante desse cenário, organizações de direitos humanos defendem que os Estados Unidos voltem a incluir a Nigéria na lista de “Países de Preocupação Particular” do Departamento de Estado, status retirado em 2021. A medida aumentaria a pressão diplomática sobre o governo nigeriano para reforçar a proteção de minorias.
Repercussão e próximos passos
Embora a libertação de Afina e das dez mulheres seja motivo de alívio, analistas de organizações religiosas alertam que centenas de reféns continuam em poder do Boko Haram.
Veldkamp informa que a CSI manterá assistência médica e psicológica ao sacerdote até sua plena recuperação, e seguirá monitorando a segurança das comunidades atendidas.
No curto prazo, a Diocese de Maiduguri deve avaliar quando o padre poderá retomar suas atividades pastorais. Em nota, colaboradores próximos afirmaram que ele se encontra “em ótimo estado de espírito”, apesar dos danos físicos não especificados. A família, por sua vez, solicitou que a imprensa respeite o período de convalescença.
Casos como o de Afina ilustram a vulnerabilidade de líderes religiosos que optam por permanecer em áreas dominadas por extremistas. Para organismos de monitoramento, a combinação de fragilidade institucional, pobreza e extremismo torna o combate à violência um desafio persistente no país mais populoso da África.
Enquanto isso, igrejas e organizações internacionais reforçam pedidos de auxílio humanitário e de apoio diplomático. A expectativa é que a atenção global gerada pela libertação do padre aumente a visibilidade da crise e motive ações concretas em defesa da liberdade religiosa na Nigéria.
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